quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Amor covarde

Em um domingo qualquer, eu escrevi este texto. Relutei em postá-lo. Então, resolvi arriscar e colocá-lo aqui para ver a reação das pessoas... Lá vai:


Irreconhecível. Quem é você agora, no instante em que busco recordar dos nossos momentos? 

Eu caminho em lugares obscuros, busco respostas nos mais variados becos e não consigo alcançá-lo, muito menos entendê-lo. Nós éramos felizes, tudo transcorria bem, tínhamos planos concretos, que resultariam em um final feliz. E você se foi… E o pior, eu o deixei partir. 

Não consigo ficar em casa, o sono não vem. Então, eu saio mais uma vez, vou para a mesa de um bar e peço a dose da bebida mais forte. Enquanto aguardo o garçom com meu pedido, meu olhar ficava distante. 
Não percebi, mas o copo de uísque 12 anos já estava ali. Puro, sem uma pedra de gelo. Era um veneno para matar o que tentara acabar comigo: a dor de um final de relacionamento. O primeiro gole desceu forte, queimava tudo, afinal, eu jamais experimentei tal bebida, nem assim, eu me importava.

Vieram mais outras doses, e meu paladar já não sentia o sabor amargo daquela bebida, minha razão perdera o controle, e minhas palavras saíam moles devido ao efeito da embriaguez. Olho para o copo e vejo no fundo a sua imagem turva, dizendo aquelas palavras que para mim não havia coesão, pelo menos, eu não conseguia acreditar e sequer entender onde foi que eu errei.

O dono do bar queria fechar seu estabelecimento, eu estava totalmente perturbada. O álcool já me dominava. Eu perdi o controle dos meus movimentos, mas ainda dizia que tinha condições em guiar meu automóvel para casa. Deixei tudo que tinha no bar, peguei a chave e fui para o carro. Transtornada, não sabia o que fazer. 

Minutos depois, sem muito refletir, eu virei a chave e fui para a casa dele, queria explicações do que acontecera. Ao avistar a sua residência, eu o vi todo arrumado, parecia que ia festejar algo. Bêbada e com raiva, eu acelerei e joguei o carro em cima dele, matando-o.

As luzes da polícia e da ambulância iluminavam o local, eu não entendia ainda o que acabara de fazer. Fui presa em flagrante. Sonolenta, eu prestei depoimentos, e jogaram-me em uma cela sem o menor pudor. No dia seguinte, eu fui entender tudo que aconteceu. Eu matei o homem que eu amava. Meu Deus! O que deu em mim?

Agora consciente, pedi à minha família que não contratassem um advogado. Eu tinha que me punir por destruir a vida de tantas pessoas, inclusive a minha, quando eu passei por cima dele, em um ato de fúria. Sou uma prisioneira covarde, que não fui capaz de resolver as questões do coração com maturidade, e mais medrosa por não querer a ajuda e visita de ninguém, de modo a não ter que encarar a dura realidade que estava à minha espera. O que me restava era envelhecer nesta jaula, totalmente sozinha.

Anos passaram. E eu ainda não me perdoava pelo ato doentio que eu cometi após ser rejeitada.  No refeitório da prisão, eu ouvi um boato sobre uma rebelião. Momento perfeito, para mudar a minha vida e pagar pelo que fiz na mesma moeda.

Dias depois, acordei com cheiro de fumaça. Espantada, eu deparei com colchões sendo queimados, as mulheres gritando e correndo, implorando por melhores condições dentro da penitenciária. Cães farejadores, a milícia armada até os dentes, e vi uma policial em minha direção. Ela parecia querer atirar. Foi ali que vi a chance de fazer algo, que outro dia no refeitório eu planejei realizar. Segui o fluxo contrário das demais detentas, quando senti o primeiro tiro e vi o sangue escorrer e manchar minhas vestes… Eu fui morta com quatro tiros e em paz por pagar a morte do meu eterno amado com meu passamento tão frio e cruel.

1 comentários:

Cláudia Sousa disse...

Sem palavras querida amiga.
Forte, interessante, intrigante, um belo texto!
bjs

Postar um comentário